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Quando a solidariedade sai a fome entra.

Conhecido por ser um povo solidário diante de catástrofes e tragédias, o  brasileiro tem aparecido nas grandes mídias, quando se fala de doações aos  necessitados, mas com um viés negativo, dando destaque à redução de suas  contribuições. 

No início da pandemia havia uma esperança de que isso tudo logo passaria. Não  vai demorar e logo voltaremos ao normal. Mas o tempo foi passando. O  desemprego batendo às portas. O auxílio emergencial sendo desviado e quando  chega a quem precisa, não atende as necessidades básicas. 

Campanhas tomaram vulto e toneladas de alimentos foram arrecadadas e  destinadas a quem precisava. Mas as doações foram diminuindo na mesma  proporção que a fome foi aumentando. Nos últimos seis meses o número de  pobres e extremamente pobres triplicou no Brasil, segundo os dados da  Fundação Getúlio Vargas, divulgados em março de 2021. Nesse mesmo período  as doações caíram 70%. 

O que leva a população, conhecida como benevolente, em situações de  desamparo social e necessidade do seu próximo a deixar de contribuir com as  campanhas? A resposta está no mais básico dos instintos humanos.  Sobrevivência. 

Diante da incerteza do amanhã, cria-se a necessidade da preservação sua e dos  seus. O guardar para não faltar. Garantir o estoque mínimo de sobrevivência.  Será que amanhã terei emprego? Terei renda? 

Diante das turbulências em uma viagem de avião, se caírem máscaras sobre  suas cabeças, a orientação é que primeiro garanta a sua segurança e  sobrevivência para depois socorrer os outros. Será que adotamos isso,  conscientemente ou não, nesse período de pandemia? 

Muito se tem falado que sairemos melhores dessa fase. Será? Não conseguimos  ser empáticos nem solidários durante a fase mais difícil da pandemia, por que  seríamos melhores após passar? Por que nos importaríamos com os outros  depois que voltarmos ao “normal”? 

Mesmo diante das dificuldades a sociedade civil se mobiliza para atender e suprir  as necessidades onde as forças governamentais não chegam, ou não querem  chegar, e não são poucas essas frentes. Ongs (organizações não  governamentais), sindicatos e CUFA (central única das favelas) são exemplos  de coletivos que não desistem de buscar recursos para socorrer a população em  situação de vulnerabilidade social. 

A vacina chegou, a fome não acabou, o tempo não esperou, o governo não  ajudou, ou ajudou? As filas se formam para vacinar. Mas a vacina não alimenta. 

Protege, mas não nutre. “A gente não quer só comida…” a gente quer vacina,  proteção e paz. 

Segundo Daniel Balaban, que chefia o escritório brasileiro do Programa Mundial  de Alimentos (WFP, na sigla em inglês), considerada a maior agência  humanitária da ONU, o Brasil está de volta ao mapa da fome. Também é o  destaque em como não lidar com a pandemia.  

Não vamos permitir que sejamos conhecidos também pela falta de empatia. Não  vamos permitir que pessoas morram de fome em um país que joga no lixo 8  milhões de toneladas de alimentos por ano, segundo levantamento da ONU. 

Segundo o dito popular, “o brasileiro não desiste nunca”. Espero que nosso povo  nunca desista de ser solidário, de socorrer quem precisa, de dar o peixe e não a  vara, para quem nunca teve oportunidade de aprender a pescar, e que, depois  de saciar a fome, também ensine a pescar e dê as condições e ferramentas para  isso. Como dizia Betinho (Herbert José de Souza), “quem tem fome, tem pressa”.

 

Prof. Me. Julio Cezar Bernardelli