junho 2, 2020

Home office e o futuro do trabalho pós-pandemia

Trabalho remoto já existia, mas a experiência forçada pela Covid-19 e o isolamento social agradou profissionais de vários segmentos. No Brasil, a modalidade elevou a economicidade e a produtividade no setor público O Brasil já está há mais de 70 dias em quarentena. Alguns estados começaram a flexibilizar o isolamento, outros foram mais rígidos e apostaram no lockdown para frear a disseminação do novo coronavírus. Diante da indefinição do fim das restrições, tanto aqui quanto em boa parte do mundo, muitas empresas decidiram manter o home office por tempo indeterminado. Grandes organizações como o Google e o Facebook, por exemplo, já anunciaram que ficarão em teletrabalho até o fim do ano. Recentemente, a Fundação Dom Cabral (FDC) e a consultoria e auditoria Grant Thornton ouviram 705 profissionais de 18 estados brasileiros e constataram que 54% deles querem continuar em home office após a pandemia. O estudo mostrou, ainda, que quase 40% perceberam que a produtividade em casa é semelhante àquela do trabalho presencial. A empresa de telecomunicações OI também fez um levantamento entre seus colaboradores. Dos 11 mil funcionários, 10.400 responderam à pesquisa. Destes, 78% querem continuar em trabalho remoto após o fim da pandemia. Um outro estudo feito pela ISE Business School revelou que 80% dos gestores gostaram do home office. A pesquisa mostrou, ainda, que 60% dos entrevistados sentiram que o teletrabalho ajudou a melhorar a eficiência e a produtividade. Além disso, a nova forma de trabalhar ajudou a desenvolver competências como flexibilidade, resiliência e autodisciplina. No setor público, o governo federal deu início a uma pesquisa com o servidores para avaliar como tem sido o trabalho remoto durante a pandemia. O estudo está sendo feito pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e a Secretaria de Gestão e Desempenho de Pessoal do Ministério da Economia (SGP/ME). A pesquisa no setor público faz parte de um estudo conduzido mundialmente pelo Center for Advanced Hindsight (CAH) da Duke University, em conjunto com a Harvard Business School e a Kayma, e é liderada por Dan Ariely, um dos principais especialistas em economia comportamental do mundo e autor de três best-sellers do New York Times. Por meio do levantamento, o governo federal terá informações que poderão ajudar nas futuras políticas de trabalho remoto. Pioneirismo na Administração Pública Federal Pouca gente sabe, mas o home office não é novidade no setor público. Muito antes da pandemia, alguns órgãos já tinham políticas de teletrabalho. É o caso do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Em 2015, o Tribunal implantou o projeto-piloto do home office. Na época, a iniciativa teve a  adesão de 75 servidores e durou 18 meses. Os resultados foram tão surpreendentes que, em março de 2017, a implantação definitiva do teletrabalho foi aprovada pelo Tribunal Pleno do TJDFT. Além da economia, a supervisora do Serviço de Autuação de Processos Oriundos da 1ª instância do TJDFT, Mônica Esmeraldo de Lucena Oliveira, explica os benefícios que o teletrabalho trouxe para o Tribunal. “O servidor trabalha mais satisfeito, pois suas prioridades são atendidas, ficando a seu critério o horário de trabalho”, disse Mônica, destacando que o trabalho remoto também aumentou a produtividade. Na Controladoria Geral da União (CGU), o teletrabalho faz parte do Programa de Gestão de Demandas (PGD), implementado em 2015. A iniciativa foi premiada no Concurso Inovação da Enap, em 2019, não só por aumentar a produtividade e promover economia de mais de R$ 8 milhões, mas também porque trouxe mais qualidade de vida aos servidores, motivação, entre outros. Teletrabalho premiado O teletrabalho mudou a vida do analista judiciário do TJAM, Luis Lima. O Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM) também aderiu ao home office muito antes da pandemia. A modalidade foi autorizada pelo Conselho Nacional de Justiça em 2016 e, no ano seguinte, o Tribunal amazonense lançou o “Programa de Teletrabalho”. Atualmente, já são 100 servidores inseridos na iniciativa. Em 2019, a média de produtividade ficou 170% acima do esperado quando comparada ao desempenho das equipes presenciais. Os altos índices alcançados renderam reconhecimentos importantes. Um deles foi o prêmio de melhores práticas em gestão de pessoas do Poder Judiciário brasileiro, na categoria “Planejamento em Gestão de Pessoas”, concedido pelo CNJ. O “Programa de Teletrabalho” amazonense também foi reconhecido pelo “Prêmio Guerreiro Ramos de Inovação Pública”. A iniciativa do TJAM ficou em segundo lugar na premiação concedida pelo Conselho Federal de Administração (CFA). O analista judiciário do TJAM, Luis Henrique de Sousa Lima, aderiu ao programa de teletrabalho em 2018. Ele comenta que o trabalho em casa mudou a sua vida. Por conta de uma condição degenerativa na coluna, Luis tinha muitas crises que o afastava com frequência do trabalho. “Isso não estava sendo bom, nem para mim nem para o Tribunal porque eu sentia que poderia render muito mais”, conta o analista. Em teletrabalho, Luis explica que não precisa ficar tanto tempo sentado. A cada uma a duas horas de trabalho, ele faz pausas para deitar alguns minutos. “Só essa medida simples, que fica fácil de fazer trabalhando em casa, já me fez tomar menos remédios e tive pouquíssimas crises. A maior vantagem é que consigo render muito mais”, comenta. Com relação a produtividade, o analista diz que seu trabalho vai muito além das seis horas. “Mas, ao final do dia, a sensação que eu tenho, é de que eu trabalhei muito menos. Para mim, tem sido muito vantajoso”, afirma. Bases legais Priscila é auditora da CGU Para implementar o PGD, a auditora federal de Finanças e Controle da CGU e gerente do Escritório de Projetos, Priscila Escórcio de França Diniz, explica que não foi preciso fazer nenhuma alteração na Lei n.º 8.112, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos. “Ela não fala sobre modalidade de trabalho. O que fala sobre modalidade de trabalho para efeitos de administração pública federal, autárquica e fundacional, é o Decreto n.º 1.590 de 1995, que permite a instituição, por meio de um ministro de Estado, de um programa de gestão orientada a resultados, que é de onde sai um pouco do conceito de teletrabalho para servidores públicos”, explica. Quando o servidor